terça-feira, 13 de junho de 2017

Os Dons Cessaram, e Isso é Bom! Parte 2, por André Henning

O Testemunho da Igreja Cristã na História sobre os Dons Extraordinários

     A alegação de que os dons extraordinários, aqueles que o Novo Testamento atribui aos 70 discípulos, aos 12 apóstolos, e àqueles a quem os referidos impuseram as mãos para os legar, com fim de expandir o Evangelho, em meio a culturas estrangeiras e permeadas de misticismo pagão, confronta o testemunho de cristãos criteriosos, testemunhas da História da Igreja, que relatam a ausência dos dons entre os crentes, e demonstram de modo tranquilo a explicação para tanto.


     Dizer que os dons nunca cessaram é afirmar que todos estes foram mentirosos, em cada tempo, culpados do pecado de omitir a existência destas manifestações no meio da Igreja universalmente.

     Até pelo fato de que, quando do surgimento dos movimentos em busca de um retorno destes dons, dos precursores do pentecostalismo, durante o século XIX, estes entendiam sua busca como “restauracionismo”, e que encontrou eco nos eventos do século XX, do discípulo de Charles Fox Parham, a Rua Azuza, de William Seymour.

     Assim sendo, o testemunho de muitos influentes pregadores, teólogos e comentaristas da história da igreja cristã, com respeito ao desaparecimento dos dons milagrosos da era apostólica, resultam ser um fator de considerável importância, especialmente quando temos homens poderosamente usados pelo Espírito para o despertamento de continentes inteiros a fé cristã, pessoas a quem seria impossível acusá-los de terem entristecido o Espírito Santo.

1. João Crisóstomo (347-407 d.C.)
“Este lugar está completamente obscuro. A obscuridade provém de nossa ignorância dos atos referidos e por sua cessação, sendo que esse então ocorriam, mas agora não mais acontecem”.

Fonte: Homilías sobre a 1ª aos coríntios, vol XII, os pais niceno e pós niceno. Hom 29:2.

2. Agostinho (354-430 d.C.)
“No período primitivo, o Espírito Santo caiu sobre quem cria e falava em línguas que jamais havia aprendido. O Espírito concedia-lhes que falassem, e estes eram sinais adaptados a época, pois precisava haver aquela evidência do Espírito Santo em todas as línguas, e mostrar que o evangelho de Deus havia de correr através de todas as línguas sobre a terra. Aquele fato foi feito com evidência e passou”.

Fonte: Dez homilias sobre 1ª epístola de João, vol. VII. Os pais nicenos/pós niceno, VI. 10.

3. João Calvino – (1597)
“Pois não há demonstração em nossos olhos de todas aquelas virtudes e dos demais milagres que eram operados pelas mãos dos apóstolos; e a razão é que estes dons eram temporais”.

Fonte: As Institutas da Religião Cristã, Vol.2, pg. 1154

4. Thomas Watson (1660)
“Com plena certeza, há tanta necessidade de ordenação hoje, como nos tempos de Cristo e dos apóstolos; naquele tempo havia dons extraordinários nas igrejas que agora cessaram”.

Fonte: As bem-aventuranças, 14.

5. John Owen (1679)
“Os dons que em sua natureza excedem a plenitude do poder de todas as nossas faculdades, essa dispensação cessou e onde quer que alguém hoje tenha pretensão ao mesmo, tal pretensão justamente pode ser suspeita como engano farsante”.

Fonte: Obras, IV, 518.

6. Matthew Henry (1712)
“O dom de línguas foi o novo produto do espírito de profecia e era concedido por uma razão particular, para que as oportunidades judia sendo removidas, todas as nações puderam ser incluídas na igreja. Estes e outros dons de profecia sendo um sinal há muito tempo cessado e foram postos de lado e não temos motivo algum para esperar reavivê-los, ao contrário se nos manda chamar a Escritura a palavra profética mais segura que vozes do céu, e ela que nos exortam a estar atentos a esquadrinhá-la e retê-las” – 2ª Pedro 1.19.

Fonte: Prefácio ao vol IV de sua exposição do AT e NT vii.

7. Jonathan Edwards (1738)
“Dos dons extraordinários foram dados para por fundamento e estabelecer a igreja no mundo. Mas assim que o Cânon da Escritura ficou completo, e a igreja plenamente fundada e estabelecida, estes dons extraordinários cessaram”.

Fonte: A caridade e seus frutos, 29.

8. George Whitefield – (1825)
a. Devido ao seu freqüente testemunho sobre a Pessoa e poder do Espírito, foi acusado de entusiasta por parte de alguns líderes eclesiásticos que falaram que ele tinha revivido os dons apostólicos. Esta crença foi negada firmemente por Whitefield que disse que nunca pretendeu ter estas operações extraordinárias de operar milagres ou de falar em línguas.
b. Ele culpa o bispo e clero de Lichfield e Coventry por não distinguir a obra ordinária e extraordinária do Espírito e por considerarem que ambas haviam cessado. Dizia que a habitação interior do Espírito, seu testemunho interno, a pregação e a oração pelo Espírito, estava entre os dons carismáticos, os dons milagrosos conferidos a igreja primitiva e os quais a muito tempo deixaram de ser. 
c. Os amigos de Whitefield também o defenderam contra a mesma acusação. José Smith, pastor congregacional em Carolina do Sul, escreveu sobre o evangelista inglês: “ele renunciou a toda pretensão de possuir os extraordinários poderes e sinais dos apóstolos, peculiares a era da inspiração e que desapareceram com eles”.

Fonte: Resposta ao bispo de Londres, Obras IV, 9. Segunda carta ao bispo de Londres, Obras IV, 167. Em prefácio aos sermões sobre assuntos importantes, George Whitefield, 1825, XXV.

9. James Buchanan (1843)
“Os dons milagrosos do Espírito há muito que foram retirados. Foram usados para cumprir um propósito temporal, como um andaime que Deus usou para construção do templo espiritual. Quando o andaime não teve mais necessidade foi removido, mas o templo permanece em pé e é habitado pelo Espírito de Deus – 1 Co 3.16”.

Fonte: O ofício e obra do Espírito Santo, 34.

10. Charles Haddon Spurgeon (1871)
a. Em uma quantidade de sermões testifica este mesmo ponto de vista. “Os apóstolos pregavam e foram homens escolhidos como testemunhas, porque pessoalmente havia visto o Salvador, um ofício que necessariamente desaparece apropriadamente, porque o poder milagroso também se retira”.
b. Não podemos esperar nem necessitamos desejar os milagres que acompanharam o dom do Espírito. As obras do Espírito que hoje são concedidos a igreja de Deus são em todo sentido tão valiosos como aqueles dons milagrosos anteriores que desapareceu da nossa presença. A obra do Espírito Santo mediante o qual os homens recebem vida de sua morte em pecado, não é inferior ao poder que capacitou os homens a falar em línguas”.

Fonte: O Púlpito do Tabernáculo Metropolitano, 1871, Vol. 17, 178. O Púlpito do Tabernáculo Metropolitano, 1881, Vol. 27, 521. O Púlpito do Tabernáculo Metropolitano, 1884, Vol. 30, 386 ss.

11. Roberto L. Dabney (1876).
“Logo que a igreja primitiva foi estabelecida não existia a mesma necessidade de sinais sobrenaturais, e Deus o extinguiu. Desde então, a igreja tenta conquistar a fé do mundo mediante o exemplo e ensinamento somente, vigorizada pela iluminação do Espírito Santo”.
Fonte: A pregação, um erro, Discussões Evangélicas e Teológicas, Vol. 2, 236-237.

12. George Smeaton (1882).
“Os dons sobrenaturais extraordinários foram temporais e haviam de desaparecer quando a igreja estivesse fundada e o Cânon inspirado da Escritura concluído; porque eles foram uma prova externa de uma inspiração interna”.

Fonte: A doutrina do Espírito Santo, 51.

13. Abraham Kuyer (1888).
Muitos dos dons carismáticos concedidos a igreja apostólica não são de utilidade para a igreja de hoje”.

Fonte: A obra do Espírito Santo, 182, ed. ingl. 1900.

14. W.G.T. Shedd (1888).
“Os sobrenaturais dons de inspiração e milagres que possuíram os apóstolos não foram continuados para seus sucessores ministeriais, posto que não era necessário. Todas as doutrinas do cristianismo haviam sido reveladas aos apóstolos e tinham sido entregues a igreja de forma escrita. Não havia mais necessidade de posterior inspiração infalível. E as credenciais e autoridade dadas aos primeiros pregadores do cristianismo em atos milagrosos não requerem repetição continua de uma era a outra. Uma era de milagres devidamente autenticada é suficiente para estabelecer a origem divina do evangelho”.

Fonte: Teologia Dogmática, Vol II, 369.

15. Benjamin B. Warfield (1918).
“Estes dons foram autenticação dos apóstolos, constituem em parte as credenciais dos apóstolos em sua qualidade de agentes autorizados de Deus na colocação do fundamento da igreja. Sua função limitou a igreja apostólica, de maneira distintiva e necessariamente desapareceu com ela”.

Fonte: Milagres falsos, 6.

16. Arthur W. Pink (1970).
“Assim como houve muitos ofícios extraordinários (apóstolos e profetas) no começo da era cristã e, também muitos dons extraordinários, como não houve sucessores designados, os dons cessaram porque dependiam dos ofícios. Não teremos mais os apóstolos como agentes e, por conseguinte os dons sobrenaturais e comunicação dos quais constituem parte essencial dos sinais dos apóstolos”.

Fonte: O Espírito Santo, 179.

17. Walter J. Chantry (1990).
“Segundo Paulo os dons espirituais cessariam no futuro; todavia, quando João escreveu Apocalipse, os dons se tornaram coisas do passado”.

Fonte: Sinais dos Apóstolos, cap. 5, pg 65.

Texto de André Henning retirado do grupo do facebook Calvinistas.

segunda-feira, 12 de junho de 2017

Os Dons Cessaram, e Isso é Bom, por André Henning




"Portanto, vocês já não são estrangeiros nem forasteiros, mas concidadãos dos santos e membros da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, tendo Jesus Cristo como pedra angular, no qual todo o edifício é ajustado e cresce para tornar-se um santuário santo no Senhor. Nele vocês também estão sendo juntamente edificados, para se tornarem morada de Deus por seu Espírito."
Efésios 2:19-22

O principal equívoco dos continuístas, ou como prefiro, dos restauracionistas, é que cessacionistas creem na cessação por não testemunhar atividade contemporânea. O falso pressuposto funda uma opinião equivocada. A cessação é necessária, prevista incontornável. Pois a função fundante dos dons é a validação do ministério apostólico, e a este se atribui o papel de doutrinação universal da Igreja, pois ao apóstolo cabia a inspiração da doutrina para a Igreja. 

Se houvesse a continuidade dos dons, a apostolicidade seria permanente, as revelações continuamente reveladas, disponíveis e um cânon aberto a novas revelações. Porém, ao contrário, o ministério apostólico foi delimitado para, no seu tempo, lançar as fundações, pelas quais é erguida a Igreja, e as instruções inspiradas nos foram legadas, na forma do Novo Testamento.

     "As marcas de um apóstolo — sinais, maravilhas
      e milagres — foram demonstradas entre vocês,
      com grande perseverança."
                                              2 Coríntios 12:12

Um ponto da historicidade da Igreja em relação a essa questão é o testemunho da própria Igreja, a partir do segundo século, a respeito do fim dos dons, e da percepção que tiveram a esse respeito. Facilmente perceberam que aquela forma de distintivo estava ligada a especificidade da atividade apostólica, e que estava completa sua função, pois o ensino, da Criação à Redenção, estava legado.

Assim foi durante séculos na cristandade, a confiança de que Deus estava sempre presente, fosse na Providência Divina, manifesta na sincronicidade dos fatos naturais, coordenando mesmo as coisas dolorosas e difíceis em benefício dos fiéis; fosse na excepcionalidade dos milagres, inexplicáveis, em que Deus muda as circunstâncias de modo misterioso, através da oração, por misericórdia, aos quais só podemos ser gratos.

Só nos fins do séc XIX retorna essa ansiedade por uma confirmação sobrenatural da validação da existência de Deus, através de dons, carismas, na Igreja, por meio daqueles que alegassem especial espiritualidade.

É um momento em que a sociedade está se revolvendo em uma transformação, da antiga forma de entender o mundo, sustentado unicamente pela mão misteriosa de Deus, diante das novidades da ciência, com suas explicações e engenhos, que com êxito, mostra outra ordem de maravilhas, por meio da tecnologia.

Tal choque gera a reação desta busca frenética por um retorno as origens em grupos que buscam assim uma fundamentação para o maravilhoso, porém não na fé diante do incognoscível, mas na busca de algo visível e palpável, na ansiedade da resposta.

Tal fenômeno social se dá no contexto da sociedade dos Estados Unidos da América, que se vê como uma Nova Jerusalém e Nova Roma, na sua concepção de Destino Manifesto, em que creem ser a realização última de Deus para Sua Igreja, nos últimos tempos.

Tal convicção faz surgir toda sorte de grupos que aguardam e pregam a "Parousia", a Segunda Vinda do Senhor, a manifestação de uma espiritualidade profética, e por fim, dos próprios dons apostólicos. Neste cenário, surgem os "milenaristas", com suas datações da vinda de Cristo nas nuvens, e sucessivas decepções.

Tais decepções induzem a percepção de que a Igreja necessita de uma purificação e avivamento, traduzidos em um movimento de "santificação", sobrenaturalista, espiritualista, e que irá desembocar em uma "restauração" da Era Apostólica, com um derramar do Espírito Santo, evidenciado novamente com o "falar em línguas".

É este o cenário social que se desenrola a partir de Parham e, na sequência, Seymour, que se espalhará, primeiro nos EUA, e posteriormente, no mundo cristão, pela convicção destes, de que esta "segunda bênção" precisa ser compartilhada com aqueles que creem, mesmo isso sendo oposto ao ensino da Escritura.

     "Portanto, as línguas são um sinal para os descrentes, 
      e não para os que creem; a profecia, porém, 
      é para os que creem, e não para os descrentes."
                                    1 Coríntios 14:22

Outro problema se dá nas instruções apostólicas para o futuro da Igreja, nos alertas contra manifestações extraordinárias, que substituem a fé por uma convicção da vista, mas que são operação de engano, imitativa dos milagres que fundaram a Igreja, que não precisa de novo fundamento, e sim, que precisa se manter firme em seus alicerces originais.

     "Pois aparecerão falsos cristos e falsos profetas
      que realizarão grandes sinais e maravilhas para,
      se possível, enganar até os eleitos."
                                   Mateus 24:24

     "Pois aparecerão falsos cristos e falsos profetas
      que realizarão sinais e maravilhas para, se possível,
      enganar os eleitos."
                                   Marcos 13:22

O engano do restauracionismo, ou continuísmo, é em primeiro lugar atender a descrença íntima, necessitando de sinais confirmadores da realidade de um Deus invisível, em um mundo que o nega por meio da ciência, tecnologia e intelectualidade retórica.

     "Então Jesus lhe disse: "Porque me viu, você creu? 
      Felizes os que não viram e creram". 
                                   João 20:29

Em segundo não atentar que no tempo presente a Igreja está na expectativa das circunstâncias do Fim, e este não é caracterizado por características da Fundação da Igreja, em uma experiência deslocada.

     "O Espírito diz claramente que nos últimos tempos 
      alguns abandonarão a fé e seguirão espíritos
      enganadores e doutrinas de demônios."
                                   1 Timóteo 4:1

Em terceiro, tal ocorre a partir de alegada autoridade profética e apostólica, de revelações para tempos atuais, fundamentadas na autoridade confirmada nos dons extraordinários exibidos por líderes carismáticos, em contradição com a Escritura

     "Mas ainda que nós ou um anjo do céu
      pregue um evangelho diferente daquele
      que lhes pregamos, que seja amaldiçoado!"
                                   Gálatas 1:8

Em quarto, que é esta expectativa sobrenaturalista que induz a predisposição da aceitação dos sinais miraculosos do homem da iniquidade, como sendo algo provindo do Senhor, para enganar a muitos.

     "A vinda desse perverso é segundo a ação de Satanás,
      com todo o poder, com sinais e com maravilhas
      enganadoras."
                                   2 Tessalonicenses 2:9

Enfim, quero deixar demonstrado que, a posição cessacionista não tem relação com não testemunhar eventos aparentemente sobrenaturais, mas sim da observação da Escritura, que adverte contra o ressurgimento de tais eventos, como preparatórios para o engano de espíritos malignos e do próprio anticristo, e que, este dia se aproxima, e devemos estar firmados na fé, como foi dado aos apóstolos, sem lançar novo fundamento.

     "Portanto, deixemos os ensinos elementares
      a respeito de Cristo e avancemos para a maturidade,
      sem lançar novamente o fundamento do arrependimento 
      de atos que conduzem à morte, 
      da fé em Deus, 
      da instrução a respeito de batismos, 
      da imposição de mãos, 
      da ressurreição dos mortos e do juízo eterno."
                                   Hebreus 6:1-2

Texto de André Henning, retirado do grupo Calvinistas do facebook.