segunda-feira, 12 de junho de 2017

Os Dons Cessaram, e Isso é Bom, por André Henning




"Portanto, vocês já não são estrangeiros nem forasteiros, mas concidadãos dos santos e membros da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, tendo Jesus Cristo como pedra angular, no qual todo o edifício é ajustado e cresce para tornar-se um santuário santo no Senhor. Nele vocês também estão sendo juntamente edificados, para se tornarem morada de Deus por seu Espírito."
Efésios 2:19-22

O principal equívoco dos continuístas, ou como prefiro, dos restauracionistas, é que cessacionistas creem na cessação por não testemunhar atividade contemporânea. O falso pressuposto funda uma opinião equivocada. A cessação é necessária, prevista incontornável. Pois a função fundante dos dons é a validação do ministério apostólico, e a este se atribui o papel de doutrinação universal da Igreja, pois ao apóstolo cabia a inspiração da doutrina para a Igreja. 

Se houvesse a continuidade dos dons, a apostolicidade seria permanente, as revelações continuamente reveladas, disponíveis e um cânon aberto a novas revelações. Porém, ao contrário, o ministério apostólico foi delimitado para, no seu tempo, lançar as fundações, pelas quais é erguida a Igreja, e as instruções inspiradas nos foram legadas, na forma do Novo Testamento.

     "As marcas de um apóstolo — sinais, maravilhas
      e milagres — foram demonstradas entre vocês,
      com grande perseverança."
                                              2 Coríntios 12:12

Um ponto da historicidade da Igreja em relação a essa questão é o testemunho da própria Igreja, a partir do segundo século, a respeito do fim dos dons, e da percepção que tiveram a esse respeito. Facilmente perceberam que aquela forma de distintivo estava ligada a especificidade da atividade apostólica, e que estava completa sua função, pois o ensino, da Criação à Redenção, estava legado.

Assim foi durante séculos na cristandade, a confiança de que Deus estava sempre presente, fosse na Providência Divina, manifesta na sincronicidade dos fatos naturais, coordenando mesmo as coisas dolorosas e difíceis em benefício dos fiéis; fosse na excepcionalidade dos milagres, inexplicáveis, em que Deus muda as circunstâncias de modo misterioso, através da oração, por misericórdia, aos quais só podemos ser gratos.

Só nos fins do séc XIX retorna essa ansiedade por uma confirmação sobrenatural da validação da existência de Deus, através de dons, carismas, na Igreja, por meio daqueles que alegassem especial espiritualidade.

É um momento em que a sociedade está se revolvendo em uma transformação, da antiga forma de entender o mundo, sustentado unicamente pela mão misteriosa de Deus, diante das novidades da ciência, com suas explicações e engenhos, que com êxito, mostra outra ordem de maravilhas, por meio da tecnologia.

Tal choque gera a reação desta busca frenética por um retorno as origens em grupos que buscam assim uma fundamentação para o maravilhoso, porém não na fé diante do incognoscível, mas na busca de algo visível e palpável, na ansiedade da resposta.

Tal fenômeno social se dá no contexto da sociedade dos Estados Unidos da América, que se vê como uma Nova Jerusalém e Nova Roma, na sua concepção de Destino Manifesto, em que creem ser a realização última de Deus para Sua Igreja, nos últimos tempos.

Tal convicção faz surgir toda sorte de grupos que aguardam e pregam a "Parousia", a Segunda Vinda do Senhor, a manifestação de uma espiritualidade profética, e por fim, dos próprios dons apostólicos. Neste cenário, surgem os "milenaristas", com suas datações da vinda de Cristo nas nuvens, e sucessivas decepções.

Tais decepções induzem a percepção de que a Igreja necessita de uma purificação e avivamento, traduzidos em um movimento de "santificação", sobrenaturalista, espiritualista, e que irá desembocar em uma "restauração" da Era Apostólica, com um derramar do Espírito Santo, evidenciado novamente com o "falar em línguas".

É este o cenário social que se desenrola a partir de Parham e, na sequência, Seymour, que se espalhará, primeiro nos EUA, e posteriormente, no mundo cristão, pela convicção destes, de que esta "segunda bênção" precisa ser compartilhada com aqueles que creem, mesmo isso sendo oposto ao ensino da Escritura.

     "Portanto, as línguas são um sinal para os descrentes, 
      e não para os que creem; a profecia, porém, 
      é para os que creem, e não para os descrentes."
                                    1 Coríntios 14:22

Outro problema se dá nas instruções apostólicas para o futuro da Igreja, nos alertas contra manifestações extraordinárias, que substituem a fé por uma convicção da vista, mas que são operação de engano, imitativa dos milagres que fundaram a Igreja, que não precisa de novo fundamento, e sim, que precisa se manter firme em seus alicerces originais.

     "Pois aparecerão falsos cristos e falsos profetas
      que realizarão grandes sinais e maravilhas para,
      se possível, enganar até os eleitos."
                                   Mateus 24:24

     "Pois aparecerão falsos cristos e falsos profetas
      que realizarão sinais e maravilhas para, se possível,
      enganar os eleitos."
                                   Marcos 13:22

O engano do restauracionismo, ou continuísmo, é em primeiro lugar atender a descrença íntima, necessitando de sinais confirmadores da realidade de um Deus invisível, em um mundo que o nega por meio da ciência, tecnologia e intelectualidade retórica.

     "Então Jesus lhe disse: "Porque me viu, você creu? 
      Felizes os que não viram e creram". 
                                   João 20:29

Em segundo não atentar que no tempo presente a Igreja está na expectativa das circunstâncias do Fim, e este não é caracterizado por características da Fundação da Igreja, em uma experiência deslocada.

     "O Espírito diz claramente que nos últimos tempos 
      alguns abandonarão a fé e seguirão espíritos
      enganadores e doutrinas de demônios."
                                   1 Timóteo 4:1

Em terceiro, tal ocorre a partir de alegada autoridade profética e apostólica, de revelações para tempos atuais, fundamentadas na autoridade confirmada nos dons extraordinários exibidos por líderes carismáticos, em contradição com a Escritura

     "Mas ainda que nós ou um anjo do céu
      pregue um evangelho diferente daquele
      que lhes pregamos, que seja amaldiçoado!"
                                   Gálatas 1:8

Em quarto, que é esta expectativa sobrenaturalista que induz a predisposição da aceitação dos sinais miraculosos do homem da iniquidade, como sendo algo provindo do Senhor, para enganar a muitos.

     "A vinda desse perverso é segundo a ação de Satanás,
      com todo o poder, com sinais e com maravilhas
      enganadoras."
                                   2 Tessalonicenses 2:9

Enfim, quero deixar demonstrado que, a posição cessacionista não tem relação com não testemunhar eventos aparentemente sobrenaturais, mas sim da observação da Escritura, que adverte contra o ressurgimento de tais eventos, como preparatórios para o engano de espíritos malignos e do próprio anticristo, e que, este dia se aproxima, e devemos estar firmados na fé, como foi dado aos apóstolos, sem lançar novo fundamento.

     "Portanto, deixemos os ensinos elementares
      a respeito de Cristo e avancemos para a maturidade,
      sem lançar novamente o fundamento do arrependimento 
      de atos que conduzem à morte, 
      da fé em Deus, 
      da instrução a respeito de batismos, 
      da imposição de mãos, 
      da ressurreição dos mortos e do juízo eterno."
                                   Hebreus 6:1-2

Texto de André Henning, retirado do grupo Calvinistas do facebook.

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